terça-feira, 19 de julho de 2011

Os caminhos do aprendizado para uma crítica literária

Este semestre da faculdade foi muito produtivo, especialmente no que se refere a textos. Portanto segue uma crítica literária de minha autoria. Espero que através dela eu consiga transportá-los para as maravilhas dessa obra francesa e deixá-los com água na boca, gostinho de quero mais. Até mais ver pessoal!

Em A Elegância do ouriço (Companhia das Letras, 352 pag., R$ 46), através da descrição de um prédio com uma pequena diversidade de moradores da classe alta francesa que acabam sendo o espelho de uma sociedade preconceituosa, mesquinha, marginalizadora, poderíamos enxergar o outro lado da moeda d’O Cortiço... um preto no branco.

Lendo essa belíssima obra nos encantamos com uma aula a distância de pura filosofia “à moda de Jostein Gaarder”, criador d’O mundo de Sofia. Em meio às centenas de páginas é possível encontrar um carinho enorme da escritora pela estética, especialmente a “cultura do belo” no Japão, e um afeto pelas palavras que faz de Muriel Barbery, francesa e professora de filosofia, querida por milhares de leitores em todo o mundo.
Uma característica da obra, perceptível já na primeira folheada de degustação do livro, é o fato de que as duas personagens principais, narradoras da obra em primeira pessoa, têm seus textos distinguíveis visualmente através do uso de tipologias distintas. Os trechos de Paloma com letras grandes – característica da literatura infanto-juvenil – e os referentes à narração da Sra. Michel com letras miúdas e discretas – comumente encontradas nos clássicos literários.

Através dos pensamentos contidos nos diários dessas duas mulheres, detentoras de grande inteligência e de uma desconfiança sobre a existência da mais pura bondade, beleza e de um sentido para a vida, Barbery descreve o cotidiano dos moradores do número 7 da Rue de Grenelle. Utilizando definições filosóficas, descrições estéticas, análises artísticas e os mais variados sabores (ah!... os doces da portuguesa Manuela), um perfeito desfile de arte para inspiração dos cinco sentidos. Tudo é de “dar água na boca” e vontade de não parar mais, pois como explicita a Sra. Michel, “A Arte é a vida, mas num outro ritmo”.

A história desenrola-se sob a ótica das personagens que são aparentemente diferentes – uma tem 12 anos e é uma rica moradora do prédio que pretende o suicídio; a outra uma zeladora cinquentona que faz o possível para não ser percebida pelos patrões -, mas compartilham a solidão. Como contraste da distância mantida até então, aproximam-se como velhas amigas através da orientação e observação atenta de um inesperado “tutor”: Kakuro Ozu. Um japonês que as liga pela adoração em comum da arte oriental, seja no cinema, na língua ou nos modernos quadrinhos. Assim encontram-se Renée e Paloma.

Porém, apesar da atenção do leitor ficar dividida entre as duas personagens, é perceptível, no decorrer da narrativa, a predominâncias dos textos da Sra. Michel, fato esclarecido pela revelação de Renée como personagem central da obra e inspiradora do título ao ser descrita por Paloma através da comparação com os ouriços, bichinhos “ferozmente solitários e terrivelmente elegantes”.

Com um toque no estilo Mitch Albom, no final – que não irei contar para não estragar vossa leitura meu caro – a escritora deixa indefinido o narrador da vez e como os últimos pensamentos de Renée foram parar no livro. Falha recompensada com muita beleza disseminada em cada página, nas quais Barbery não deixa a desejar. Assim como descreve, através dos pensamentos mais íntimos da Sra. Michel, a beleza das portas japonesas, é possível notar na construção dos capítulos de A elegância do ouriço efeito harmônico semelhante. Um jogo de conexões entre os temas debatidos internamente pelas personagens, sem impedir que cada história de vida mostre-se também única e particular: “A porta de correr, [...] Quando é aberta, dois lugares se comunicam sem se ofender. Quando é fechada, cada um deles recupera sua integridade”.

Sem dúvida uma obra fantástica que pode não atrair de cara por uma de capa de destaque, que no caso deste carrega uma foto em tom cinza – um tom romântico e melancólico - e um título bastante discreto, mas encanta pelo carinho com que foi composta.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Do impresso vem a inspiração

Como de costume, o primeiro semestre desse ano de 2011 foi bastante corrido. Tudo se resumiu ao investimento de 8h diárias, de segunda a sábado, em um trabalho para garantir apoio financeiro e aprendizado e uma lista infinita de deveres da faculdade – trabalho seguido de trabalho.
Contudo, uma coisa fez com que toda a correria fosse recompensada: três aulas semanais de jornalismo impresso. Com toda certeza posso afirmar que, apesar de extremamente difícil, foi ainda mais prazeroso poder participar de cada segundinho da disciplina ministrada pelo professor Adauto.
Fico contente em sentir que agora tenho muito mais segurança para escrever – um afazer que para mim é extremamente prazeroso.
Confesso que torço a cada dia para que ele – meu professor – também pense o mesmo. Enfim, que eu realmente tenha progredido e esteja no rumo certo para a realização dos meus sonhos profissionais.
Para que vocês também testem minhas capacidades resolvi disponibilizar aqui um dos textos que produzi este semestre. Abaixo vocês encontrarão um artigo que escrevi com gosto especial.
Ah... como de praxe: COMENTA AÍ!!!!!



Por via das dúvidas, um consumo mais light
Desejo. Uma simples palavrinha, mas um forte significado que vem colocando em xeque o bem estar do planeta Terra.

De acordo com previsões das Nações Unidas, até outubro deste ano a população mundial alcançará a marca dos 7 bilhões. Isso representa um crescimento de quase 17% no número consumidores de recursos naturais em apenas 13 anos.

Profissionais de diversas áreas, tais como publicitários, psicólogos, cientistas sociais e economistas, discutem há séculos e sob múltiplas perspectivas, o que leva o ser humano a desejar, muito além de necessitar, algo. Afinal, o que faz a máquina econômica girar e, com o desenvolvimento da rede capitalista em ritmo acelerado, gera preocupação entre cientistas, dezenas de filmes sobre catástrofe na indústria hollywoodiana e grande repercussão na mídia? Afinal, um pensamento inocente de anseio pode causar algum mal?

Se voltarmos alguns milhares de anos no tempo e analisarmos a cultura de consumo entre os humanos pré-históricos, veremos que a relação do homem com o planeta era puramente de busca pelo alimento e abrigo necessários a sobrevivência.

Porém, através da evolução humana e o desenvolvimento de técnicas que tornam possível uma vida muito mais longa e saudável, saciar necessidades tornou-se apenas a base de uma cadeia cíclica de desejo pelo consumo.

Todos já ouvimos falar, ao menos uma vez, que o desenvolvimento da economia nos países emergentes e por conseqüência a elevação do consumo da população, especialmente de bens de consumo não duráveis, aos níveis norte-americanos, tornaria impossível a manutenção do mercado sem a multiplicação do planeta Terra e sua posterior devastação. Pois bem, isto é um dado bastante alarmante, mas que tende a piorar. Até 2083 a população mundial deve chegar aos 10 bilhões.

De simples caçadores de antílopes evoluímos para trabalhadores fabris, executivos, comerciantes e outras tantas criações do capitalismo tecnológico, ligados full time a internet. Somos bombardeados diariamente por um show pirotécnico de pura fantasia com um poder mágico de convencer a todos de que o consumo é a resposta para os desprazeres de uma rotina exaustiva e uma forma milagrosa de elevar a auto-estima. Volto então à questão inicial discutida aqui: será que estamos nos importando com o resultado de nossos desejos desenfreados?

Tempestades incontroláveis, enchentes, altas temperaturas em estações frias, ventos que se assemelham a tornados. Catástrofes ambientais entendidas por muitos cientistas e grupos de defesa do meio ambiente como respostas do planeta as agressões ambientais. Talvez, e mais provavelmente com toda a certeza, deveríamos parar de duvidar.